Jogos que conectam
- S. Terra de Azevedo

- 31 de out.
- 3 min de leitura

Qual o sentido em jogar o jogo da velha que, se jogado de forma racional por ambos os lados, resulta em empate?
O ponto de vista racional é abordado no filme Jogos de Guerra. A racionalidade salva a humanidade quando o supercomputador que controla o disparo de mísseis nucleares, ao ser desafiado a jogar o jogo da velha contra si próprio, percebe que é impossível vencer o jogo. Extrapolando para a questão da guerra, ele compreende que não é possível haver vitoriosos em uma guerra nuclear. Assim, interrompe o processo.
Mas essa não é a única forma de abordar a questão. Em outro filme, Dias Perfeitos, Wim Wenders nos oferece outra possibilidade. Um homem, durante seu trabalho, encontra um papel com um jogo da velha iniciado. Chega a descartá-lo, mas, após um momento de reflexão, reconsidera seu gesto. Recupera o papel do saco de lixo e, com sua caneta, faz seu lance, devolvendo-o em seguida ao lugar onde o encontrou.
Inicia-se, assim, uma partida que se desenrolará até o final do filme. Os jogadores não se conhecerão, não saberão quem são. Mas irão até o fim, quando realizarão seus derradeiros lances:
um “obrigado” escrito no papel, por um;
um sorriso no rosto, no outro.
De alguma forma, esse jogo oferece algo às pessoas. De crianças a adultos, do Ocidente ao Oriente, desde a Antiguidade, ele está presente. Mas talvez, muito além do objetivo do desenvolvimento do raciocínio lógico e racional, não seria ele uma forma de estabelecermos — e estarmos — em contato?
Antes de terminar, deixe um link para um trecho do filme Dias Perfeitos em que o protagonista ouve "The House of the Rising Sun" em versão japonesa, disponível no Youtube.
S. Terra de Azevedo
Notas:
Dias Perfeitos (2023) - Extraído do sítio AdoroCinema.
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Wim Wenders, Takayuki Takuma
Elenco: Reina Ueda, Koji Yakusho, Tokio Emoto
Título original: Perfect Days
Dias Perfeitos acompanha a história de Hirayama (Koji Yakusho), um homem de meia-idade que vive em Tóquio.
Jogos de Guerra (1983) - Extraído do sítio AdoroCinema.
Direção: John Badham
Roteiro: Lawrence Lasker, Walter F. Parkes
Elenco: Matthew Broderick, Dabney Coleman, John Wood
Título original: WarGames
Um jovem (Matthew Broderick), aficionado por informática, conecta seu microcomputador acidentalmente ao sistema de defesa americano, controlado por um computador ultrassofisticado. O acidente provoca um estado de alerta que pode acabar causando a Terceira Guerra Mundial.
Jogo da velha - O trecho a seguir foi extraído e traduzido de uma página da revista Scientific American: The Enduring Appeal of Tic-Tac-Toe.
No jargão da teoria dos jogos, o jogo da velha é um confronto entre duas pessoas que é “finito” (tem um fim definido). Não possui nenhum elemento de chance e é jogado com “informação perfeita”, todas as jogadas sendo conhecidas por ambos os jogadores. Se jogado de forma “racional” por ambos os lados, o jogo deve terminar em empate.
A única chance de vencer é pegar um oponente imperfeito em uma “armadilha”, em que uma linha pode ser marcada no próximo movimento de duas maneiras, das quais apenas uma pode ser bloqueada.
Das três jogadas iniciais possíveis — um canto, o centro ou uma casa lateral —, a abertura mais forte é a do canto, porque o oponente só pode evitar a armadilha no próximo movimento escolhendo uma das oito opções possíveis: o centro.
A abertura pelo centro, entretanto, pode ser respondida ocupando um dos quatro cantos.
A abertura lateral é, em muitos aspectos, a mais interessante, devido à riqueza de armadilhas que permite.




Bela reflexão, Sérgio!
Contatos... redirecionam a história, a nossa história.
Conhecer e ouvir a versão japonesa do "The house of the rising sun" foi muito especial!