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S.T.Azevedo

Vida de gado


Há poucos dias eu e minha família aproveitamos um gostoso final de semana e fugimos do isolamento social para outro tipo de isolamento, desta vez numa simpática fazenda aqui em Pernambuco. Nos dois dias que por lá passamos a minha filha pôde participar das atividades de uma verdadeira fazendeira, lidando com cavalos e cuidando do gado. Nas horas vagas ainda se deu ao luxo de pescar.

Uma das atividades como boiadeira era aplicar no gado um remédio contra carrapatos. Para que isso fosse feito era necessário deslocar o rebanho que estava no pasto e traze-lo para o curral. Este é dividido em duas grandes áreas: na primeira são colocados os animais ao chegar; na segunda ficam os que já foram medicados. Para passar de uma área para outra é preciso passar por um corredor estreito com porteiras de contenção que permitem o posicionamento de cada animal numa área delimitada onde a aplicação do remédio é realizada.

O rebanho fica agrupado. Juntos, os animais ficam tranquilos. Quando chega a hora de passar pelo corredor surge o stress.

Nessa hora é um de cada vez.

Cada animal que entra no corredor é conduzido até uma primeira porteira. Esta se abre e ele avança, deparando-se logo adiante com outra. Não é possível voltar, pois a primeira porteira é logo fechada. É o momento da aplicação da medicação, que deve ser breve. Terminado o processo, o animal é liberado para a área dos tratados, onde reina a tranquilidade.

O processo corre bem até que uma novilha, após a abertura da primeira porteira, avança apavorada e se joga contra a armação de madeira. O impacto é forte e ela cai. A equipe de trabalho se aproxima para ajudá-la, mas ela está desacordada. Inicia-se uma ação de ressuscitação, mas em vão. A novilha está morta.

Homens e crianças silenciam, perplexos e em respeito à jovem novilha. O rebanho está calmo.

Reorganizados os nervos e refeitos os planos, o trabalho recomeça. A novilha é retirada do local e a aplicação da medicação prossegue com o restante do rebanho.  Um outro trabalho para tratar da novilha terá de ser realizado.

O episódio se transformou, naturalmente, no assunto do resto do dia. E penso que os adultos não se saíram de todo mal da situação. Conversamos bastante com as crianças, que parece terem lidado bem o ocorrido. Falar sobre a morte é delicado, e vivenciá-la não é fácil. Mas a morte é parte da vida, e negá-la não faz sentido.

S.T.Azevedo


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