Pense em três crianças, Anne, Bob e Carla. Elas estão brigando por uma flauta. Cabe a você decidir quem ficará com ela.
Anne reivindica a flauta porque ela é a única que sabe tocá-la. Bob e Carla reconhecem isso. Ela afirma que seria injusto não entregar a flauta para a única pessoa que sabe tocá-la. Se isso é tudo o que você sabe, provavelmente seria um bom motivo para entregar a flauta para Anne. Esta seria, provavelmente, a opção de Aristóteles, que considerava que as coisas tem uma finalidade. A flauta foi criada para ser bem tocada, trazendo assim felicidade para quem a ouvisse.
Considere agora um cenário diferente. Agora é Bob quem argumenta que a flauta deve ser dele porque ele é, entre as três crianças, a única tão pobre que não possui brinquedo algum. As outras crianças reconhecem que são mais ricos e têm vários brinquedos. Se você tivesse escutado somente Bob, agora poderia ter um bom motivo para lhe entregar a flauta.
Num terceiro cenário é Carla que argumenta que foi ela quem, com suas próprias mãos, trabalhou por muito tempo para fazer a flauta – os outros reconhecem esse fato – e só quando ela terminou o trabalho, só nessa hora vieram os outros para lhe tirar a flauta. Neste caso, se você tivesse ouvido apenas Carla, poderia tender a lhe entregar a flauta.
O que fazer, entretanto, se você ouviu os argumentos das três crianças? Qual decisão tomaria? É possível ser justo em sua decisão?
Várias soluções podem surgir para este caso. Elas variarão em função da concepção de mundo de cada um.
O mais interessante de tudo, entretanto, é que seja qual for a sua decisão, não será fácil considerar infundadas as outras alternativas. Há em todas elas sérios argumentos a seu favor.
E então, precisamos estar de acordo?
S.T.Azevedo
Referências:
Essa história foi adaptada do livro "A ideia de justiça", de Amartya Sen.
Foto retirada da Internet.
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