Sou um católico não praticante, meio agnóstico (existe isso?), filho de mãe religiosa que, se não conseguiu que eu frequentasse as missas, ao menos me ensinou o hábito de rezar antes de dormir. Então, desde tempos imemoriais, já com a cabeça no travesseiro, eu rezo silenciosamente uma Ave Maria, um Pai Nosso e agradeço pelo dia.
Agora, pai de um casal de gêmeos, tenho praticado o hábito de rezar com eles antes de dormirem. É uma forma de tranquiliza-los, de trazer um pouco de serenidade depois de um dia agitado.
Fui percebendo, entretanto, que o momento da Ave Maria e do Pai Nosso não era suficiente para acalmar as crianças. Foi então que eu incluí no repertório o poema "Para ser grande", de Ricardo Reis, um dos pseudônimos de Fernando Pessoa.
Para ser Grande
Para ser grande, sê inteiro,
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa,
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim, em cada lago,
A lua toda brilha.
Porque alta vive.
No começo o poema provocava agitação, ao invés de acalmar.
- Pai, eu não entendi nada!
Tenho persistido. O poema não causa mais estranhamento e agora eles já me acompanham na declamação.
Concluo agradecendo pelo dia. Às vezes eu puxo o pensamento para as coisas boas que aconteceram ou acrescento uma história qualquer. Então eu encerro com um boa noite e um eu te amo.
Teísmo e ateísmo
Acredito que eu e Deus temos um bom relacionamento, mas tenho minhas restrições com alguns de seus intermediários ou supostos representantes.
Tenho um grande amigo que é ateu convicto. Certa vez seu filho o chamou para conversar. O diálogo que se passou foi mais ou menos assim:
- Pai, eu te traí. - Como assim, meu filho? - Eu resolvi acreditar em Deus. - Foi mesmo?
Pai e filho continuam muito bem, cada um com suas convicções. E nossa amizade segue sólida, ele com suas convicções, eu com minhas contradições.
E prosseguimos em nossos caminhos.
S.T.Azevedo
Créditos: Foto de Gianluca Grisenti no Pexels
Obrigado, Débora. Que bom que você gostou. Um grande abraço! Sérgio