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Pais e filhas

  • S.T.Azevedo
  • 17 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura


A filha está chorosa. É domingo à noite, aquela hora em que as amarguras vêm à mente com mais intensidade. A mãe não está conseguindo ajudar a filha a pegar no sono. O pai assume o posto.


O choro é sentido e a pergunta é direta: é verdade que você só fala que vai pensar para não me ver triste?


Esse pai não é de falar muito. Falta a ele a desenvoltura de uma boa argumentação. Mas ele tenta seguir alguns princípios, dentre eles o de não mentir para a filha. Talvez ele se acovarde em alguns momentos; talvez ele fuja da discussão usando subterfúgios.


A filha está crescendo. Hoje ela já não aceita despistes simplórios. Ela cerca, cobra, insiste, negocia.


Já conhece tudo sobre o assunto. Já praticou, inclusive com a presença do pai, atos difíceis de serem realizados por uma criança de 9 anos. Ela não aceita mais não discutir o assunto.

Esse pai não fala muito, mas acredita que tem um pouco de capacidade de ouvir. Nesta noite ele estava encurralado. Ouviu até onde entendeu que podia, até que respondeu: é verdade, filha, o papai diz que vai pensar para não te ver triste.


É verdade que o papai não quer dar o cachorrinho que você tanto sonha.


Crises como essa, embora nem sempre nessa intensidade, fazem parte da vida da família. Nem tudo pode ser obtido, o preço por vezes é alto, e nem sempre é o dinheiro que conta.

O choro segue, ambos em silêncio. O pai está muito triste. Seu choro é silencioso. E ele se mantém calado. Não quer se justificar, não quer contornar a situação, não quer reabrir uma chama de esperança no coração da filha, não quer decepciona-la novamente.


É ela quem retoma o diálogo. Sua voz já não passa angústia. Sua tristeza diminuiu. Falou do seu dia e do porque dela ter ficado com essa vontade tão forte no peito. O pai deixou-a falar. Aos poucos foi entrando na conversa, ficando ao lado dela. As tensões se dissiparam. Ficaram em paz.


A hora avançava. A mãe entrou no quarto e reassumiu a tarefa de ajudar a filha nesta hora do sono. Poucos minutos bastaram para que o sono repousante vencesse sua batalha. Amanhã será outro dia.

P.S.: Essa história se deu em agosto de 2018. Hoje a Pipoca, a tão sonhada cachorrinha, é uma realidade, resultado de muita persistência.


S.T.Azevedo

 
 
 

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