Não sei porque, mas essas conversas geralmente acontecem quando estamos à mesa.
- Pai, a primeira guerra mundial aconteceu quando?
- Hummm, acho que foi entre 1914 e 1918.
- E a segunda guerra, quando foi?
- Quem é que está estudando história nessa casa, eu ou vocês?
A pergunta fica sem resposta. Continuamos.
- Pai, quando foi que o vovô nasceu?
- O vovô nasceu em 1928.
- Ele lutou na segunda guerra?
- Não. Ele era uma criança nesse período.
Aproveitei a idade das crianças para contextualizar.
- A II Guerra começou quando o vovô tinha 11 anos. Já pensaram?
O silêncio se fez presente por uns instantes. Provavelmente pensavam sobre o que seria viver num tempo de guerra. Mas não deixei a conversa morrer.
- Quando tinha 11 anos, o vovô viveu no tempo da guerra. Vocês, aos 11 anos, estão vivendo no tempo da pandemia da COVID-19.
- E o vovô viveu esses dois momentos!
- É verdade. Mas viver na pandemia é parecido com viver em uma guerra? O vovô vivia no interior do Estado do Rio de Janeiro e provavelmente não foi afetado. Atualmente a pandemia afeta idosos, adultos e crianças em todos os cantos do planeta.
Mais um momento de silêncio. Puxei novamente a conversa.
- Vocês já pensaram que daqui a 92 anos os netos de vocês poderão se perguntar como foi que seus avós viveram durante a pandemia? O que vocês responderiam para eles?
- Não sei não! Eu acho essa pandemia horrível. Ela não deixa a gente sair de casa!
- Concordo. Mas o que podemos fazer enquanto ela não passa? Que tal "afiar o machado"?
- Como assim?
- Há um ditado que nos diz algo assim: Se você tem uma hora para cortar uma árvore, o melhor a fazer é gastar os primeiros 45 minutos afiando o machado.
- Cortar uma árvore? Que horrível!
- Tudo bem. Vamos deixar a árvore quietinha no lugar dela. Vou dizer de outra forma: Aproveitem o tempo preparando-se para quando puderem sair de casa novamente. A propósito, como vão os estudos?
- Ihhh, lá vem o papai novamente estragando a conversa.
S.T.Azevedo
Créditos
Foto de Andrea Piacquadio no Pexels
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