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Pés no chão

  • Foto do escritor: S. Terra de Azevedo
    S. Terra de Azevedo
  • 29 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

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Chapim carvoeiro

“Para voar você precisa perder o chão”. Essa frase faz parte da apresentação do livro “É o fim da psicologia?”, de Spencer Hartmann Júnior, lançado há alguns dias em cerimônia na Academia Pernambucana de Letras. 


Fiquei intrigado com ela. Fiquei pensando nos empurrõezinhos que levei na vida, proporcionando voos que são parte da minha trajetória. Mas confesso que me sinto mais seguro com os pés no chão. 


Andei estimulando algumas pessoas a alçarem voo. Ao fazer isso, corri meus riscos, pois não há garantia de nada.


Não deixa de ser um tanto quanto angustiante estar diante da incerteza do que virá. Uma coisa é você apoiar um pássaro que já sabe voar a recuperar o curso de seu próprio destino após um revés. Outra é você empurrar para o vazio aquela criatura que ainda não sabe que pode voar, que precisa passar por esse momento extremo para encontrar o seu rumo. Assim fazem as mães pássaros com suas crias, empurrando-as para fora do ninho.


Imagine a sensação da queda, acompanhada, logo a seguir, do voo salvador e libertador. É difícil dizer como, neste momento, estarão o coração da mãe, que empurra a cria, e de quem fica sem chão. Provavelmente ambos os corações estarão saindo pelas bocas.


A mãe pássaro, em sua sabedoria, sabe quando é chegado o tempo do empurrão. Acompanhou o crescimento da sua cria e percebe que uma parte da sua missão foi cumprida. 


A partir daqui, diferenças significativas acontecem. Seres humanos não são pássaros, por mais que consigam encontrar meios para voar.


Até onde consigo entender, a mãe pássaro não permanece na expectativa de saber qual será o destino da sua cria. O mesmo não acontece com seres humanos, pois estes se mantêm  atentos às pessoas com as quais estabeleceu vínculos e, mesmo à distância, acompanha o desenrolar de suas histórias.


Estimular a alçar voo é uma sinalização de confiança para com quem é capaz, mas pode não estar segura disso.


Adeus, ou até logo.


Um grande amigo meu, português, reclamava com a sua mãe quando ela se despedia das pessoas dizendo adeus (adeusinho), por considerar essa uma palavra muito definitiva. Melhor seria usar até logo.


Voar, para os seres humanos, não é sinal de adeus. Talvez caiba melhor um “até algum dia”. Os vínculos permanecer. Temos a capacidade de nos comunicar, temos nossas memórias, o que implica dizer que a pessoa que estimulou alguém a voar continua pronta para receber em seu chão aquela vida que floresceu e partiu para conhecer o mundo. E que, volta e meia, pode retornar para um momento de descanso e recuperação, ou mesmo para dizer olá.


Letras e números


Termino voltando a mencionar Spencer Junior e sua fala na cerimônia de lançamento de seu livro. Spencer mencionou que precisamos cuidar das letras para não virarmos números, não virarmos estatísticas.


Gosto de números, mas não para definir pessoas ou enquadrá-las em estatísticas. Por exemplo, gosto do número 8, que identificava Leivinha quando comecei a me apaixonar pelo futebol. O meio campo composto por Dudu, Leivinha e Ademir da Guia ficou na história do Palmeiras, mas isso é história só possível de ser recuperada através das letras.


Continuarei, portanto, cuidando das letras. O número 8 me acompanhará como uma lembrança boa dos tempos de criança.


S. T. Azevedo 


Referências

Júnior, Spencer Hartmann; É o fim da psicologia? Editora IGP, 2024.


Créditos




 
 
 

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4 comentários

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Sandra Aline de Oliveira Barbosa
Sandra Aline de Oliveira Barbosa
02 de jan.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

É sempre prazeroso ler uma crônica de Sérgio Terra.

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S. Terra de Azevedo
S. Terra de Azevedo
02 de jan.
Respondendo a

Obrigado, Sandra! Você é muito gentil.

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Clayton Queiroz Jr
Clayton Queiroz Jr
30 de dez. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Excelente texto, só escorregou na parte futebolistica...rsrsrs Parabéns Sérgio e feliz 2025 com muitos textos maravilhosos!!

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S. Terra de Azevedo
S. Terra de Azevedo
02 de jan.
Respondendo a

Obrigado, Clayton! Tenho certeza que você também gosta do número 8, usada por um certo Doutor Sócrates. Um grande abraço!

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